sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Noite dos fantasmas, por Pedro J. Bondaczuk

Pedro J. Bondaczuk (*)



Ouço ao longe sons de passos furtivos,
incertos, trôpegos, ecoando na calçada.
É noite...Noite escura dos fantasmas
dos trânsfugas e solitários,
em que todas minhas saudades
conspiram contra a mental sanidade.

Ao longe, um cão uiva para a lua,
profética lamúria,
lamento instintivo e ancestral.
Um bêbado tangencia o horizonte,
em uma coreografia caótica,
dança incoerente, patético balé.

Na semi-obscuridade do quarto,
mariposas orbitam o poeirento lume,
projetando sombras bailarinas
nas paredes nuas, manchadas de solidão:
vida louca, alma vadia, fugaz ilusão...

A memória resgata a crônica do ontem,
perdida nos meandros do passado;
mortos queridos, amores extintos,
amigos distantes, respeitáveis inimigos.
Conclave imaginário de fantasmas...

Pontas de cigarros erigem pirâmide
desordenada no cinzeiro de vidro
(ou seria de alabastro? ou de cristal?).
Fumaça azulada desenha incerto
itinerário ao redor da suja lâmpada.
Estou só no quarto...("sozinho na América",
diria, dramático, o poeta de Itabira),
nesta noite, modorrenta e triste, dos insones.

(*) Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com

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