Talis Andrade (*)
Me espreguiço
no teu corpo
na doce dolên
cia da rede
Me espreguiço
no teu corpo
na doce sono
lência dos
cafunés e
dos ventos
mormacentos
(Do livro “Cavalos da Miragem”, Editora Livro Rápido – Olinda/PE).
(*) Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do Diário da Noite, Jornal do Comércio (Recife), Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
segunda-feira, 27 de abril de 2009
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Chuva, por Fabiana Bórgia
Chuva, por Fabiana Bórgia
Fabiana Bórgia (*)
Chove
uma chuva macia
e forte
Vinho
tinto
seco
Amor
forte
denso
Chuva, vinho, amor
combinação perfeita
tinto seco
paixão úmida
Calor
Colo
Paz
Tua presença:
um temporal
(Do livro “Desconexos”, Íbis Libris – Rio de Janeiro).
(*) Poetisa e advogada, fazendo especialização em Leitura e Produção Textual, autora do livro “Traços de Personalidade”
Fabiana Bórgia (*)
Chove
uma chuva macia
e forte
Vinho
tinto
seco
Amor
forte
denso
Chuva, vinho, amor
combinação perfeita
tinto seco
paixão úmida
Calor
Colo
Paz
Tua presença:
um temporal
(Do livro “Desconexos”, Íbis Libris – Rio de Janeiro).
(*) Poetisa e advogada, fazendo especialização em Leitura e Produção Textual, autora do livro “Traços de Personalidade”
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Uma rosa, por Evelyne Furtado
Evelyne Furtado (*)
Você me deu uma rosa linda e mais uma vez viu o brilho nos meus olhos. Você vai dizer que não foi bem uma flor que me ofereceu e eu vou teimar como sempre faço. Foi uma rosa, sim.
Eu não me enganei, pois estava escrito com as quatro letras que a designa e outras tantas palavras confirmando que o presente que você me deu era uma rosa sensível, bela e impermanente. Tal como o amor.
Foi isso que o fez lembrar de mim o que amplia o significado do presente. Você conhece frente e verso de mim. Você sabe até onde sou capaz de ir e diz que eu pareço uma adolescente.
A propósito, pensei muito sobre isso. Lembrei que outras pessoas nos últimos dias duvidaram da minha idade e pasme: fui além da vaidade, questionando minhas atitudes.
Será que sou tão imatura assim? Será que meu comportamento não é adequado à mãe de uma arquiteta que tem a idade que eu tinha quando casei? Não achei uma resposta precisa.
Acontece que coração não tem rugas. Essa frase ouvi minha mãe dizer a uma amiga no telefone há algum tempo e hoje faz todo sentido. O meu coração tem cicatrizes, mas aposto que tem menos rugas do que o meu rosto. Talvez seja este o motivo de parecer uma adolescente aos seus olhos.
Um coração só envelhece quando perde a capacidade de sonhar e o meu não perdeu. Por isso você me deu uma rosa. Eu cultuo um sonho bonito e você faz parte dele.
(*) Cronista e poetisa em Natal/RN
Você me deu uma rosa linda e mais uma vez viu o brilho nos meus olhos. Você vai dizer que não foi bem uma flor que me ofereceu e eu vou teimar como sempre faço. Foi uma rosa, sim.
Eu não me enganei, pois estava escrito com as quatro letras que a designa e outras tantas palavras confirmando que o presente que você me deu era uma rosa sensível, bela e impermanente. Tal como o amor.
Foi isso que o fez lembrar de mim o que amplia o significado do presente. Você conhece frente e verso de mim. Você sabe até onde sou capaz de ir e diz que eu pareço uma adolescente.
A propósito, pensei muito sobre isso. Lembrei que outras pessoas nos últimos dias duvidaram da minha idade e pasme: fui além da vaidade, questionando minhas atitudes.
Será que sou tão imatura assim? Será que meu comportamento não é adequado à mãe de uma arquiteta que tem a idade que eu tinha quando casei? Não achei uma resposta precisa.
Acontece que coração não tem rugas. Essa frase ouvi minha mãe dizer a uma amiga no telefone há algum tempo e hoje faz todo sentido. O meu coração tem cicatrizes, mas aposto que tem menos rugas do que o meu rosto. Talvez seja este o motivo de parecer uma adolescente aos seus olhos.
Um coração só envelhece quando perde a capacidade de sonhar e o meu não perdeu. Por isso você me deu uma rosa. Eu cultuo um sonho bonito e você faz parte dele.
(*) Cronista e poetisa em Natal/RN
terça-feira, 14 de abril de 2009
Ato de resistência, por Marcos Alves
Marcos Alves (*)
As palavras livres voam e pertencem, depois de lidas, a quem as compreende e interpreta. Surge então a figura do leitor, que ao emprestar ao texto suas impressões se torna parte do universo ali descrito.
Escrever é sagrado. Escrever é profano. Escrever é coisa do ser humano. Ato solitário, vontade de se expor, coragem de dizer aquilo que se pensa.
Mesmo quando mente ou inventa, o escritor se expõe. Faz isso de propósito, brinca com as sutilezas do cotidiano enquanto deixa aqui e ali suas angústias, desejos, ironias e frustrações.
O texto jornalístico não permite abstrações, sabemos. A indústria da informação precisa de conteúdo objetivo, direto e sem rodeios. Quando muito se permite ilustrar com personagens e histórias de vida os fatos reportados.
Mas a isenção nunca vai ser total, completa, afinal somos humanos e quando escrevemos geralmente falamos de nossos semelhantes. Nos envolvemos, mas só podemos dar nossa opinião depois do expediente ou na roda do cafezinho.
Isso é muito pouco para quem carrega dentro de si o amor pela Literatura. Esse tipo de jornalista quer mais, não se conforma com esse limite, procura então outros espaços onde possa expressar as imagens e histórias que lhe habitam a alma.
Longe de ser uma válvula de escape o ato de escrever é um ato de resistência. Quando saímos do ramerrão, da fórmula, da produção, enfim, da roda viva que é escrever como quem produz parafusos ou arroz; quando deixamos sobre o papel aquilo que realmente queremos deixar, adquirimos um pouco mais de dignidade.
O Literário é um desses lugares onde o jornalista encontra e descreve o ser humano em toda sua crueza e magnitude; sem restrições ou interferências. É por isso que estamos aqui e é para isso que se presta a nobre arte de encadear palavras. Falar de nós mesmos para nós mesmos sobre aquilo que somos. Não é pouca coisa.
(*) Jornalista
As palavras livres voam e pertencem, depois de lidas, a quem as compreende e interpreta. Surge então a figura do leitor, que ao emprestar ao texto suas impressões se torna parte do universo ali descrito.
Escrever é sagrado. Escrever é profano. Escrever é coisa do ser humano. Ato solitário, vontade de se expor, coragem de dizer aquilo que se pensa.
Mesmo quando mente ou inventa, o escritor se expõe. Faz isso de propósito, brinca com as sutilezas do cotidiano enquanto deixa aqui e ali suas angústias, desejos, ironias e frustrações.
O texto jornalístico não permite abstrações, sabemos. A indústria da informação precisa de conteúdo objetivo, direto e sem rodeios. Quando muito se permite ilustrar com personagens e histórias de vida os fatos reportados.
Mas a isenção nunca vai ser total, completa, afinal somos humanos e quando escrevemos geralmente falamos de nossos semelhantes. Nos envolvemos, mas só podemos dar nossa opinião depois do expediente ou na roda do cafezinho.
Isso é muito pouco para quem carrega dentro de si o amor pela Literatura. Esse tipo de jornalista quer mais, não se conforma com esse limite, procura então outros espaços onde possa expressar as imagens e histórias que lhe habitam a alma.
Longe de ser uma válvula de escape o ato de escrever é um ato de resistência. Quando saímos do ramerrão, da fórmula, da produção, enfim, da roda viva que é escrever como quem produz parafusos ou arroz; quando deixamos sobre o papel aquilo que realmente queremos deixar, adquirimos um pouco mais de dignidade.
O Literário é um desses lugares onde o jornalista encontra e descreve o ser humano em toda sua crueza e magnitude; sem restrições ou interferências. É por isso que estamos aqui e é para isso que se presta a nobre arte de encadear palavras. Falar de nós mesmos para nós mesmos sobre aquilo que somos. Não é pouca coisa.
(*) Jornalista
segunda-feira, 6 de abril de 2009
O “desafio” de Pedro, por Marco Albertim
Marco Albertim (*)
Pedro pediu, pediu-nos para escrever sobre o terceiro aniversário do Literário; lançou-nos, conforme ele, um “desafio”; algo que, feito, terá amadurecido o escritor; a si e ao espaço de sua escrita. Começo meio que constrangido, porquanto a desafios estão acostumados os poetas repentistas. Os repentistas têm na ponta da língua a resposta ao desafio, nutrem-se da porfia, são cúmplices nas acusações mútuas. Escrevo, eu, não por desafio, mas para reconciliar-me com o outro eu que carrego nos sentidos. Escrever é um desafio episódico, visto que se circunscreve em algum limite das 24 horas do dia, da noite. Estas sim, posto que somadas, darão chances ao feito da escrita. Acordar é um desafio, sobretudo na segunda-feira, como faço agora.
Acordo simulando felicidade, com alguma astúcia. Pedro, inda que longe, está à espreita; por certo já terá escovado os dentes. Depois de cevar-se no primeiro desjejum, assuntará o que nós ou alguns de nós estarão assuntando para o seu “desafio” – esperto, ele trajou o “desafio” com enfeites de pedido, deixou-nos ainda mais desafiados. Sinto-me como da primeira vez em que escrevi para o Literário, confuso, desjeitoso; mas embeiçado na tenção de tornar-me um colaborador; não um colunista; o colunista escreve como se estivesse fazendo a assepsia do busto de Coelho Neto a seu lado, junto de outros enfeites. Sem desmerecer Os pombos, conto belíssimo de Coelho. O encomendado a um amigo a compra de um busto de Machado de Assis, em São Paulo
O sacana encheu-se de chopes e esqueceu a compra; ele próprio um machadiano empedrado. Tenho, e com ele troco ideias, o sopro de um vento que Cirilo, o pescador que me vende o peixe, diz vir do sudeste; “...ele sempre vem do sudeste, por isso não precisamos fazer o bordejo para chegar ao local onde deixamos a rede”. Cirilo não sabe escrever, mas é tão objetivo nas rotas que faz inveja ao escritor apurado. O diálogo que tive com o vento, vindo do sudeste, acentuou-me o dever do ofício; de tal modo que fiz de Pedro o interlocutor, sem ajuizar a extensão de sua voz; imagino-a, agora, cava, combinando com a quadratura do rosto. E vejo-me com dezoito anos, no primeiro trabalho.
“Rapaz, vá ao banco depositar este dinheiro. Não esqueça de trazer o comprovante do depósito!” – advertira-me o gerente do escritório. Quando saí da sala, o outro boy chamou-me a um canto: “Se demorar ele pensa que você parou para ouvir o camelô falar...” O gerente me falou com a mesma voz que imagino ser a de Pedro, agora: “O desafio, rapaz!”
Parei para ouvir o camelô fazendo o pregão de um remédio para todas as curas. Um milagre na Praça da Independência! Com farmácias em volta, vendendo caro, remédios de cura duvidosa. O camelô me convenceu, queria estar doente, eu, para ser sua cobaia. Tempos depois, dei-me conta de que a oratória do camelô, longa, concisa, inda que na boca babona, era um discurso apurado, mais apurado que o arrazoado de um desembargador emaranhado em latins tardios. O camelô foi o primeiro homem a me impressionar com o uso das palavras. Pedro... Tenho saudades do camelô. Agradeça a ele, in memoriam, eu ter aceito o seu “desafio.” Obrigado, Pedro Bondaczuk.
(*) Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
Pedro pediu, pediu-nos para escrever sobre o terceiro aniversário do Literário; lançou-nos, conforme ele, um “desafio”; algo que, feito, terá amadurecido o escritor; a si e ao espaço de sua escrita. Começo meio que constrangido, porquanto a desafios estão acostumados os poetas repentistas. Os repentistas têm na ponta da língua a resposta ao desafio, nutrem-se da porfia, são cúmplices nas acusações mútuas. Escrevo, eu, não por desafio, mas para reconciliar-me com o outro eu que carrego nos sentidos. Escrever é um desafio episódico, visto que se circunscreve em algum limite das 24 horas do dia, da noite. Estas sim, posto que somadas, darão chances ao feito da escrita. Acordar é um desafio, sobretudo na segunda-feira, como faço agora.
Acordo simulando felicidade, com alguma astúcia. Pedro, inda que longe, está à espreita; por certo já terá escovado os dentes. Depois de cevar-se no primeiro desjejum, assuntará o que nós ou alguns de nós estarão assuntando para o seu “desafio” – esperto, ele trajou o “desafio” com enfeites de pedido, deixou-nos ainda mais desafiados. Sinto-me como da primeira vez em que escrevi para o Literário, confuso, desjeitoso; mas embeiçado na tenção de tornar-me um colaborador; não um colunista; o colunista escreve como se estivesse fazendo a assepsia do busto de Coelho Neto a seu lado, junto de outros enfeites. Sem desmerecer Os pombos, conto belíssimo de Coelho. O encomendado a um amigo a compra de um busto de Machado de Assis, em São Paulo
O sacana encheu-se de chopes e esqueceu a compra; ele próprio um machadiano empedrado. Tenho, e com ele troco ideias, o sopro de um vento que Cirilo, o pescador que me vende o peixe, diz vir do sudeste; “...ele sempre vem do sudeste, por isso não precisamos fazer o bordejo para chegar ao local onde deixamos a rede”. Cirilo não sabe escrever, mas é tão objetivo nas rotas que faz inveja ao escritor apurado. O diálogo que tive com o vento, vindo do sudeste, acentuou-me o dever do ofício; de tal modo que fiz de Pedro o interlocutor, sem ajuizar a extensão de sua voz; imagino-a, agora, cava, combinando com a quadratura do rosto. E vejo-me com dezoito anos, no primeiro trabalho.
“Rapaz, vá ao banco depositar este dinheiro. Não esqueça de trazer o comprovante do depósito!” – advertira-me o gerente do escritório. Quando saí da sala, o outro boy chamou-me a um canto: “Se demorar ele pensa que você parou para ouvir o camelô falar...” O gerente me falou com a mesma voz que imagino ser a de Pedro, agora: “O desafio, rapaz!”
Parei para ouvir o camelô fazendo o pregão de um remédio para todas as curas. Um milagre na Praça da Independência! Com farmácias em volta, vendendo caro, remédios de cura duvidosa. O camelô me convenceu, queria estar doente, eu, para ser sua cobaia. Tempos depois, dei-me conta de que a oratória do camelô, longa, concisa, inda que na boca babona, era um discurso apurado, mais apurado que o arrazoado de um desembargador emaranhado em latins tardios. O camelô foi o primeiro homem a me impressionar com o uso das palavras. Pedro... Tenho saudades do camelô. Agradeça a ele, in memoriam, eu ter aceito o seu “desafio.” Obrigado, Pedro Bondaczuk.
(*) Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
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