domingo, 23 de agosto de 2009

Atos desconexos, por Fabiana BórgiaFabiana Bórgia (*)

Eu sou o impulso
o laçoo
lapso
o colapsodos
segundos
dos instantes
do que passa
e tantas vezes
perpassaatos
des
conexos
de instintos gritando
chamando
teu nome.

Não quero estar certa.
Sou passional
e escrevo tudo errado.
Entendo tudo de amor,
mas não sei amar.
Exílio.

(Do livro “Desconexos”, Íbis Libris – Rio de Janeiro).
(*) Poetisa e advogada, fazendo especialização em Leitura e Produção Textual, autora do livro “Traços de Personalidade”

domingo, 16 de agosto de 2009

O amor permanecerá sendo o amor, por Evelyne Furtado

Evelyne Furtado (*)

A partir de 1º de janeiro de 2009, entrou em vigor o tão discutido e pouco esclarecido Acordo Ortográfico, cujo objetivo é uniformizar a grafia das palavras em todos os países de língua de portuguesa. Vou ter que me informar sobre a reforma, pois bem ou mal, eu escrevo e deverei ter cuidado para não cometer mais erros, porém a preocupação fica por aí.

Passarei a fazer meus autorretratos e a ter meus momentos antissociais. Não usarei os hífens e finalmente não me culparei por esquecer os tremas, embora os ache bonitinhos. Comerei linguiça e pronto.

Direi que lhe perdoo, sem acento circunflexo e sem muito drama. Continuarei apta a perdoar e abrirei espaço para mais perdões verdadeiros.

Ainda bem que não tocaram na palavra que mais gosto de escrever. Amor continuará a ser amor do jeitinho que é grafado hoje e mesmo que alterassem a grafia da palavra, em essência o amor permaneceria a entrar porta adentro sem pedir licença. Filólogos e gramáticos não afetam e nunca afetarão o amor que é soberano e indomável.

Com ou sem legislação não deixarei de conjugar esse verbo com a voz do coração. Amo mesmo quando o sentimento é latente e descansa.
(*) Cronista e poetisa em Natal/RN.

domingo, 2 de agosto de 2009

Blues, por Solange Sólon Borges

Solange Sólon Borges (*)



Não sei fingir que amo pouco quando em mim ama tudo.
Vergílio Ferreira


Recebo sua imagem envolta em azul.
Mergulho onde se escondem asas,
virações, horizontes que me aguardam.
O azul profundo da noite a tudo oculta
sob sua pele bárbara:
percebo o quanto ilumina,
oscilando entre o que pulsa e emociona,
entre o que nomeio divino e estilhaço,
entre o que mostra e revela:
a rosa em formação.

Original: o estranho jogo de sílabas
embaralhadas para que tudo tenha sentido
e precisão diante dos destroços.
As palavras como testemunha.

Sua foto está lá, imutável,
sem fissuras, corrosões, devastações,
pressas, ervas daninhas,
enquadrada para a eternidade,
disciplinada pela beleza.
Sol encarcerado. Rios de luz na imobilidade,
semblante desfocado de anjo.

Na contraluz não se vê
a aparição subterrânea do que há em mim:
códigos intraduzíveis da fúria
e o útero dos relâmpagos.
A vida tem urgências...
as noites queimam
incontroláveis de amor.

O que temo? O desconhecido?
A profundidade dos abismos e seus alicerces corroídos?
Onde a arquitetura da paz?
A administração do caos?
É preciso que tudo doa menos.
Tenho necessidades medievais
diante do peso total de um céu desesperado.
Minhas pequeninas coisas do coração:
sonhos pisados, o amor que esperei e nunca veio...

Será que alguém ainda consegue
me fazer algum mal depois de tudo que vivi?
A circularidade do que é humano:
o mecanismo da vida que leva
a todos para tão longe
e depois os traz para tão perto
em sua sincronicidade perfeita.
Por isso seu olhar é azul e meu silêncio, blues.

(*) Jornalista, dedica-se a diversos gêneros literários. Entre outras atividades, atua em alguns programas “O prefácio”, sobre livros e literatura. Um deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL TV (2003/2004). Apresentou, também, “Paisagem Feminina”, pela Rádio Gazeta AM (1999), além de crônicas diárias na Rádio Bandeirantes e na Rádio Gazeta — emissoras das quais foi redatora, repórter, locutora e editora.