segunda-feira, 5 de maio de 2008

Criança diz cada coisa!, por Seu Pedro

Seu Pedro (*)



Há muito tempo atrás o médico pediatra, jornalista e dramaturgo Pedro Bloch tinha uma página na revista Manchete com o título acima. Contava histórias engraçadas e inusitadas acontecidas com crianças que passavam pelo seu consultório. Nasceu na província de Jitomir, Ucrânia, 1914, veio criança para o Brasil e faleceu no Rio de Janeiro aos 90 anos, no dia 23 de fevereiro de 2004. Ele foi para o céu, mas as histórias que ouviu e documentou ficaram, e cresceram em volume, muitas que ele não ouviu, mas que os pequeninos continuam a dizer.

Um dia destes recebi em casa uma visita de uma criança de outra cidade. Com o pai nascido em Macaúbas, no Sudoeste da Bahia, Joana tem sete anos completados agora e é filha de mãe paulista. A família veio a passeio a Guanambi, cidade da mesma região da Bahia, em visita de férias a vovó Lió que reside nesta cidade. A criança naturalmente alegre e conversadora encontrou aqui Sammhyra, nascida no Sertão, também com sete anos e igualmente extrovertida. Logo travaram uma amizade de férias. As duas passaram a freqüentar a sombra de uma frondosa mangueira, que em janeiro ainda oferta deliciosos frutos da temporada.

Histórias para lá e histórias para cá entre as duas, e era o tal “meu pai me deu, meu pai me levou, meu pai é meu herói”, que bom! A outra, igualmente, contava as vantagens do pai. Os pais orgulhos contavam as histórias dos filhos, enquanto as crianças mostravam seus novos brinquedos, coisa de Papai Noel, papai José e papai Pedro, e a depender dos momentos, as mamães também eram lembradas. “Minha mãe é professora” e outra rebatia: “A minha faz jornal, mas me ensina”. Está certa Sammhyra; quem faz jornais são os jornalistas.

Aos poucos foram percebendo entre elas o sotaque diferenciado. Uma falava porta secamente, outra enfiava um “i” no meio das palavras; “poirta” e na hora do almoço “cairne”. E a maneira interessante de falar diferente chegou a cada uma em forma de curiosidade e vontade de imitar uma a outra. Horas e horas e palavras trocadas e faladas repetitivamente. Foi assim que os pais perguntaram o que as meninas faziam: “Ela vai me ensinar falar paulista e eu vou ensinar a ela falar baiano”. A coleção de citações do Dr. Pedro tem muita chance, de nós, observadores, fazê-la crescer.

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como “Jornalista do Sertão”. seupedro@micks.com.br

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