quarta-feira, 25 de março de 2009

Poetas velhos e cansados, por Fábio de Lima

Fábio de Lima (*)



Quando os ponteiros dos relógios brasileiros marcarem 0h00 do dia vinte e sete de março de dois mil e nove (assim, escrito!), o espaço Literário, do Comunique-se, completará três anos de vida. Eu, Fábio de Lima, o contador de histórias, o escrevinhador de doces delírios, estarei dormindo. Durmo cedo, 21h00/22h00, e acordo cedo, 5h00/6h00, de segunda a domingo – hábito antigo que já percorre três décadas.

A data cairá na sexta-feira. Dia de trabalho árduo e de finalização de uma semana cansativa, como costumam ser as semanas do povo. Nenhuma festa envolvendo os colunistas do Comunique-se será feita. Churrasco, feijoada, dobradinha – nada. Coquetel com roupas elegantes, maquiagens mais carregadas, bebidas – não, esqueçam. Abraços, beijos, apertos de mãos – nada disso. Sorrisos, cumprimentos, tapinhas nas costas – nada, nada e nada.

Outros escritores, como eu, estarão dormindo quando o relógio da Igreja da Sé abençoar essa sexta-feira. Alguns estarão acordados escrevendo ou com insônia revirando sobre a cama. Os poetas estão ficando velhos, mesmo sem querer. Os textos guardados nas gavetas do mundo ou espalhados por cantos diversos carecem de carinho.

Sexta-feira, por desígnios do destino, não estarei em São Paulo, meu refúgio de cidadão brasileiro. Estarei em Fortaleza. Trabalhando sim, mas vivendo a vida também. Na sexta-feira esse meu texto já terá sido lido por quem desejou fazê-lo e, como não está em papel, nem para embrulhar peixe ele servirá mais. Nem para isso. O mundo não tem mais tempo para os poetas e só por esse motivo, único e exclusivamente, eles se cansam e envelhecem.

André Falavigna (BARBA!), estará vivo ou morto na sexta-feira? Nei Duclós pensará no que ao olhar-se no espelho depois de levantar-se? Celamar Maione colocará qual brinco antes de sair de casa? Daniel Santos comerá o que de café da manhã? Evelyne Furtado fará para quem seu primeiro telefonema? Marcelo Sguassábia olhará quantas vezes no relógio ao cair da tarde? Risomar Fasanaro terá tempo de encontrar sua amiga? Urariano Mota irá conseguir terminar de ler aquele livro sobre ufologia?

Caros amigos leitores do Comunique-se, e Pedro Bondaczuk? O que será que o homem que administra esse espaço Literário, com toda maestria do mundo, já faz três anos, estará fazendo na sexta-feira? E a Laís de Castro? E o Talis Andrade? E a Mara Narciso? E a Solange Sólon Borges? E o Eduardo Murta? E a Marleuza Machado? E o Seu Pedro – gente, onde estará e o que estará fazendo esse sertanejo defensor das letras e da poesia?

Na sexta-feira, às 19h57, estarei sentado na areia de uma praia cearense olhando, com olhos de enxergar, o mar. Estarei pensando o que seria do oceano sem cada gota d’água. Não sei onde vocês estarão e nem o que estarão fazendo nesse exato minuto da sexta-feira, vinte e sete de março de dois mil e nove, mas eu estarei feliz por ser quem eu sou e por sermos quem nós somos. Poetas velhos e cansados? Não, o tempo é uma ilusão. Somente poetas. Poetas e mais nada. POETAS!

(*) Jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.

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