quinta-feira, 26 de junho de 2008

A solidão de uma vida feliz, por Natália Alves

Queremos isso e mais aquilo e mais aquilo outro e assim repetidas vezes. Temos necessidades, mas será que são todas nossas? Beleza, erotismo, felicidade, saúde, atenção e identificação, tudo que é preciso para viver em sociedade.

Somos belos, mas o creme facial da propaganda pode acabar com as espinhas nos deixando com o rosto da jovem loira e linda que vende o produto na TV. As cirurgias podem modificar toda a estética de um corpo esquecido, julgado inferior. Tudo se pode em prol das necessidades, tudo se consome em prol delas e tudo se refaz para a satisfação do outro.

O outro é quem nos julga, nos altera, nos diz o que fazer, nos permite pertencer a algo e nos permite sonhar. Nos identificamos e vivemos o imaginário ideal que nos é oferecido, aceitamos as necessidades do outro como se fossem nossas e agradecemos por pertencer. Somos felizes! Não importa o que é preciso fazer para alcançar a felicidade, o que importa é ser alguém para o outro.

Queremos atenção! Suplicamos por atenção! É necessário comprar a calça jeans usada pela "mocinha" na novela para pertencermos. Precisamos ser ouvidos, necessitamos ser vistos e sentidos. Somos belos depois de um dia no salão de beleza, somos eróticos depois de assistir um filme pornô, somos felizes depois de suprir necessidades, que não sabemos se as temos, somos saudáveis quando somos belos, temos atenção quando pertencemos e nos identificamos com o outro.

Sonhar com uma vida perfeita, o marido amável e rico das novelas, vida social agitada igual a das celebridades, cabelos longos e lisos produzidos pelas progressivas, chocolates, chapinhas e por aí vai, comer pouco ou, até mesmo nada, para que os ossos à vista mostrem nossa dedicação aos padrões de beleza, olhar para o outro e desejar ser o que não é, viver a vida que agrade ao grupo ao qual pertence. Isto é a vida perfeita deste mundo consumista. Esta é a realidade ideal para um mundo alienado. Esta é a solidão de uma vida "feliz".

(*) Estudante de Jornalismo da Facha – Rio de Janeiro

Nenhum comentário: