quinta-feira, 5 de junho de 2008

Confesso: roubei suas flores, por Evelyne Furtado

Evelyne Furtado (*)



Eu sei que não foi feito para mim, mas coube em mim como se você tivesse tirado as minhas medidas. Como se você me fotografasse todos os dias. Um instantâneo feito agora provaria.

Um texto com autoria e dedicado a alguém pode ser de qualquer leitor que o leia? Ah, como eu quero uma resposta afirmativa! Ah, como me faria feliz se o poeta me visse dessa forma lírica e gostasse tanto de mim!

Hoje li uma frase linda que dizia assim: “Ser humano é levantar todos os dias". Quem escreveu foi o escritor e jornalista Nei Duclós, no Comunique-se. Bem ou mal é melhor levantarmos, nem que seja para ler escritos assim; nem que seja para ver refletidos nossos olhos vermelhos, pois também choro levantando ou não.

Graças a Deus não me faltam amigos bons, mas me falta aquele pedaço de alma que perco e encontro, sem nunca retê-lo em mim. Falta-me também paciência e me sobra ansiedade. Talvez seja essa a razão de não eternizar a chama que me aquece.

Você conhece alguém como eu. Você escreveu lindamente para ela e eu recebi como se as flores fossem para mim. Roubei-as, todavia ninguém notou, acho, mas a minha honestidade faz com que eu confesse o furto do buquê.

Você sabe que eu adoro rir? Verdade. Tanto choro, como dou gargalhadas, só que cada pedacinho que me levam eu choro e por isso roubo flores.

Não. Eu não sou ladra. Foi só dessa vez e de outras também com outros textos e com letras de músicas das quais me apodero como se minhas fossem. Afora esses casos não ponho a mão no alheio.

E sendo redundante digo que gosto muito de rir e de quem me faz rir.
Não sou triste: sou saudosa e sensível. Justifico assim minha admiração e meu crime. Não resisti a tal beleza e a tanto carinho.

Portanto não me condene. Ao contrário, permita-me ficar com algumas flores do seu jardim. Ninguém notará a diferença. Ele continuará cada vez mais bonito e eu me sentirei mais feliz.

(*) Jornalista, poetisa e cronista em Natal/RN

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