segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sem palavras, por Rodrigo Ramazzini

Rodrigo Ramazzini (*)



- Meu amigo Joel, te prepara!
- Ué! Por quê?
- Olha pra trás e vê quem está vindo.
- Quem?
- Olha!
- Putz! Não acredito! Pior que ela está vindo aqui...
- A mulher é tua... Segura a fera! Será que vem te buscar?
- Com certeza! Vai fazer barraco de novo...
- Bah! Eu me lembro da última vez.
- Nem me fala! Nunca mais fui naquele bar de vergonha. Está perto?
- Arãn!
- Está com cara de braba?
- Não! Pelo contrário. Vem com um sorriso no rosto... Toda produzida... E...
- E o quê?
- Desculpa a indiscrição, mas a tua mulher está em forma, hein?
- Por que estás dizendo isso?
- A saia que ela está usando... Como posso dizer... Está deixando um belo par de coxas a mostra.
- Pára de olhar para a minha mulher, Fonseca!
- Foi só um comentário...
- Cadê ela?
- Ela... Ela... Ué! Cadê? Ah... Sentou-se em uma mesa lá perto do banheiro.
- Ai! Ai! Ai!
- O que foi?
- O que eu faço agora?
- Boa pergunta, meu amigo.
- Ela está olhando pra cá?
- Não! O garçom está lhe atendendo. Pediu uma cerveja pelo jeito...
- Meu Deus! Meu Deus! O que eu faço agora?
- Vai lá!
- Se eu for lá, ela vai querer vir sempre junto...
- E qual o problema?
- Acorda, Fonseca! Vê se eu quero vir pro boteco com a minha mulher...
- Fazer o quê...
- Fazer o que nada... Olha a mulherada na volta! Que pesadelo!
- Pois é...
- O que eu faço? O que eu faço?
- Ela está olhando pra cá!
- E?
- Acenou com o copo...
- Meu Deus!
- Olha Joel! Se eu fosse tu, eu iria lá... Já tens uns gaviões “rondando”!
- Não adianta mesmo, é aquele ditado: “mulher da gente é que nem Chuchu, não tem gosto, não tem cheiro, mas se tu não comer, os outros comem...”
- Joel e os seus ditados machistas! Vai lá se não quem vai se enquadrar em algum ditado de corno...
- Opa! Opa! Nem completa... Estou indo!

- Oi querida! Posso sentar?
- Não, Joel!
- Por que não?
- Porque não! Estou a fim de tomar uma cerveja sozinha. Não posso?
- Que palhaçada é essa, Marília?
- Por que palhaçada? Pode me dizer?
- Era só o que me faltava... Minha mulher freqüentadora de boteco.
- Ué! Por que só tu podes vir para uma mesa de bar tomar cerveja, hein? Qual o problema? Eu também gosto! Quantas vezes tu já chegaste em casa de madrugada, dizendo que só estava tomando uma cervejinha... Ingenuamente com os amigos...
- É... Hã... Hã... Hã!
- Pois é! Hoje é a minha vez...
- Mas...
- Mas nada! Pode saindo. Eu disse que não podia sentar... Essa cadeira vai ser ocupada.
- Está esperando alguém?
- Arãn!
- Quem?
- As mulheres dos teus amigos também já devem estar chegando...
- Como é que é?
- Isso mesmo que tu ouviste! A mulher do Breno, do Richard, do Guazzeli e até do Fonseca, que estava ali tomando cerveja contigo virão pra cá...
- Mas o que é isso? Complô das calcinhas?
- Ah! Toma.
- O que é isso?
- Ué! Não reconhece? A chave de casa...
- Pra quê?
- É melhor levar... Não precisa me esperar... Eu toco a campainha... Vou ficar por aqui tomando um choppinho ingenuamente com as meninas.

(*) Jornalista e cronista.

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