quarta-feira, 13 de maio de 2009

A onça e o monte, por Juliano Luís Pereira Sanches

A onça e o monte, por Juliano Luís Pereira Sanches

Juliano Luís Pereira Sanches (*)



Num certo período do dia, o tempo e natureza pedem um espaço para os seres se desabafarem. Querem se expressar, contar o que sentem. De olhos e ouvidos aguçados, São Francisco de Assis e Grande Amigo, índio xavante, ouvem os pedidos e aparecem perto de um rio que abrilhanta o alto da montanha. Com sua astúcia, Grande Amigo põe bocas na pedra e no monte alto, sons nos lábios dos protetores da natureza, vida e movimento no que é inanimado. Para ajudar Grande Amigo, Francisco começa a fazer uma oração.
– Ó Criador, nos faça instrumentos de vossa paz. Fazei com que, todos nós, possamos amar, ao invés de esperarmos sermos amados, pois é dando que se recebe.

Todos se alegram com a chegada dos dois, tão percebida como o espetáculo da alvorada. De repente, os amigos pássaros começam a prestar atenção no intenso monólogo. Cheio de raiva e dores internas, o monte reclama sobre sua vida, e sente inveja da onça.
– Estou aqui há anos sem sair do lugar, e o que ganho com isso? Tenho que disfarçar ser pedra, quando sou ser, fingir ser inanimado, quando sou parte de um todo consciente. Queria correr como você. Passar em volta das amigas árvores e beber a água que o amigo rio lhe dá.

Francisco e Grande Amigo chamam a amiga onça, para ajudá-lo. A onça, com seu intenso rajado, não se incomoda com o irmão, que apesar de ser tão grande e majestoso, não reconhece a gigantesca força que tem dentro de si. Ela aconselha o monte.
– Sinta a poderosa rocha que há em você. O seu ganho é a sua existência, tão prazerosa e completa se for bem vivida. Cada um de nós faz a sua parte. O rio dá a água sem esperar algo dos outros, porque sabe que ele se completa a cada dia, em sua confiança, em sua verdade. Honro a cada momento que vivo. Em seu seio, quantas vidas você sustenta? As amigas plantas e os demais amigos animais encontram em você uma casa para viver e glorificar o Criador. Sinta o amor que os seus amigos vibram. Você é um todo.

À sombra do monte, a boca de uma pequena pedra começa a se mexer.
– Caro amigo, o agradecimento dá força e nos prepara para o que nos aguarda.

A vibração de todos surte efeito e o alto do monte se encanta de alegria com a chegada de um lindo arco-íris. A plantas e os animais fazem pares. A harmonia retorna a casa, ao coração dos seres. A festa da vida é retomada, para manter os seus belos prazeres.

(*) Jornalista, folclorista e poeta de Campinas. Foi repórter de assuntos gerais nos programas Sexta Cultural, Fractal, Jornal da Educativa e Bom Dia Campinas, da Rádio Educativa FM 101.9 (www.campinas.sp.gov.br). Atualmente, é apresentador, repórter e produtor do programa de jornalismo educativo Ponto & Vírgula da Rádio Educativa em parceria com a Secretaria de Educação de Campinas. Colaborador do Portal Sorocult (www.sorocult.com), e colunista do Jornalzen (www.jornalzen.com.br), de Campinas.

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