sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Amor em silêncio, por Fábio de Lima

Amor em silêncio, por Fábio de Lima

Fábio de Lima (*)



- Você só tem 19 anos.
- Isso agora é problema?!
- Não, não estou dizendo isso.
- Está dizendo o que, então?!
- Só penso que você pode namorar alguém da sua idade. Agora nossos 13 anos de diferença são perfeitamente contornáveis, mas, em nossa velhice, serei 13 anos mais velho que você, e isso será uma grande diferença.
- Você está querendo terminar nosso namoro e não está com coragem de dizer?! É isso?! Fala, Flávio!
- Não, não estou querendo terminar. Não é isso.
- É isso sim! Seja homem para assumir!
- Não, você está imaginando coisas.
- Não, não estou! Você que está fazendo rodeios para dizer algo que está claro! Você cansou da menininha, né?! Eu sabia que você uma hora ia cansar! Você sempre falou que beleza física para você não era o mais importante. O fato de eu ser jovem, bonita, te atraiu, mas agora só isso não basta, não é?!

- Érika, a gente viveu um relacionamento lindo. Ficamos juntos por três anos, mas agora a gente anda brigando por tudo. Não faz sentido isso, entenda!
- Eu sabia! Eu era mais nova e ainda boba! Então, você me usou e agora se cansou de mim! Me falaram que isso ia acontecer! Me falaram tantas vezes! Meu Deus, como fui idiota!
- Idiota você está sendo agora, Érika! A gente tem brigado tanto que eu já não tenho certeza se nos amamos. Como é possível amar e brigar tanto assim?!
- Eu te amo, Flávio! Eu te amo muito!
- Será?! Ou será que você acha que ama?! Você nunca conheceu um outro homem! Nesse momento eu sou tudo que você conhece e por isso sou o melhor, o mais encantador, o mais bonito...! Na sua cabeça eu sou o homem ideal! Mas, daqui algum tempo você pode nem lembrar que eu existo!
- Não, eu sempre vou te amar!
- Você não sabe!
- Sei sim! Tenho certeza!
- Você não tem certeza de nada, Érika!
- Tenho certeza, sim! Tenho certeza sim, Flávio! Eu não sou uma menininha idiota! Você quer me abandonar! Você deve já ter outra, não é mesmo?!
- Não dá para conversar com você, Érika! Chega! Estou saindo!

Flávio pegou o celular sobre a mesa, as chaves, a carteira, e saiu batendo a porta. Érika chorava compulsivamente caída ao sofá da sala – enquanto a TV alta servia desde o começo da briga para encobrir os sons da desesperança. Todos os familiares de Érika foram contra o inicio daquele relacionamento. Como podia uma garota de 16 anos namorar um homem de 29? Todos da família de Flávio também foram contra. Como podia um homem de 29 anos namorar uma garota de 16?

Flávio sempre teve certeza do amor por Érika e nunca deu ouvidos para os comentários alheios. Érika também amava Flávio e, mesmo sendo muito jovem, tinha certeza que ele era o homem de sua vida – o futuro pai de seus filhos. O casal viveu muito bem nos dois primeiros anos juntos. Aliás, deixaram de ser namorados para ser casados – dividirem o mesmo lar e dividirem, também, todos os planos de futuro. Mas os últimos meses não foram como os dois esperavam e as brigas se tornaram uma constante na vida do casal.

Então, depois de tudo, Érika, abandonada naquele apartamento, soluçava de tanto chorar e se sentia triste, magoada e usada. Flávio, perdido em seus pensamentos, caminhava em direção a casa de seus pais, sete quarteirões ao sul. Érika parecia desesperada. Flávio parecia muito triste. O céu ficava escuro naquela tarde de verão e a chuva se aproximava rápido. Érika caminhou até a sacada do apartamento e olhou o céu. Flávio atravessou a rua correndo e olhou o céu. Gritos desesperados ecoaram no prédio. Gritos desesperados ecoaram na rua. Érika e Flávio se encontraram no silêncio. E no silêncio eles sempre se amaram.

(*) Jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.

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