quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Sobre despedidas, por Evelyne Furtado

Evelyne Furtado (*)



Você já estava indo. Saía aos poucos de mim. Doía e você soprava. Despedimos-nos algumas vezes. Mas você voltava. O processo foi doloroso como quem morre aos poucos.

Nem sempre foi triste. Eu já sabia que você iria. Eu até me despedi antes, certa de que não o veria mais. Então, de repentes, você surgia.

Foram boas despedidas. Nem tenho necessidade de disfarçar. Para falar a verdade: foram ótimas despedidas. Na última o dia se fez lindo e voltei para casa cantarolando, apesar de lá dentro um anjinho me avisar que talvez fosse a última vez que eu o via.
Continuamos nos despedindo por telefone. Por e-mails. Pelo MSN. As dificuldades sobre as quais você passava me preocupavam, mas eu sempre disse que ao fim daria tudo certo.

Você me ouviu chorar. Eu ouvi-o reclamar. Você dizia e desdizia. Eu dançava conforme a sua música. E você me mimava do seu jeito. Enviei mensagens de textos horríveis para você. Perdoamos-nos inúmeras vezes.

Escrevi coisas bobas, que achava lindas, para você. Você nunca escreveu bobagens para mim, seu estilo é outro, mas sua boca murmurou bobagens deliciosas de ouvir.

A noite, antes triste, virou festa e foi aí que peguei de vez na sua mão e me deixei ir. Visitei um mundo novo e recebi-o no meu.

Todo conto de fada tem fim. E o nosso não vinha com o “felizes para sempre”. Você foi e não me disse que era de vez. Alguém o viu longe daqui e me falou. A página virou com o vento e o escuro caiu sobre mim. Perdida nem vi a lua que eu brindara na véspera.

Fiz de cada trago no cigarro um sinal para você. Então, você me apareceu. Lindo como sempre. Acenando de longe. E doce como nunca vi. Adoro doces, você sabe.

Não quero pensar nos dias que virão sem mais uma de nossas despedidas. Não sei nada sobre o futuro, nem quero saber.

O que eu quero, menino, é ser feliz e serei se você também for, perto ou longe, de mim.

Como o Soneto da Separação de Vinicius. É assim que quero que você lembre de mim. É como eu vejo você. É como sinto essa despedida. Acho que ainda o verei mais tarde, para mais uma despedida, se Deus quiser.

(*) Jornalista, poetisa e cronista em Natal/RN

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