terça-feira, 21 de julho de 2009

Ausência do sol, por Evelyne Furtado

Evelyne Furtado (*)



"(...) Onde vocês veem coisas ideais, eu vejo coisas humanas; ah, somente coisas demasiadas humanas!”

Naquele verão Nietzsche era o filósofo da moda. Todos pareciam conhecer o pensador intimamente, menos eu.

Um adolescente de 18 anos, em uma discussão on line, "mandou-me" ler Nietzsche. Achei o cúmulo da prepotência. Eu, que me considerava uma leitora razoável, estava sendo questionada por não ter lido o filósofo alemão. por um menino!

Depois de responder-lhe com minha ninharia "nietzschiana", advinda de Josteein Gardder, em poucas linhas de O Mundo de Sofia e de outros livros de iniciação à filosofia, resolvi encarar essa.

Empolgada com Quando Nietzsche Chorou, o romance de Irwin D. Yalon, onde Freud, Dr.Josef Breur, Friderich Nietzsche e Lou Salomé reunem-se na ficção, passei ao assassino de Deus.

Durante dias de muito calor, levei seu primeiro livro, “Humano Demasiado Humano” e outro trabalho sobre a sua obra, para a praia. Eu, Nietzshe, água de coco e o sol na Praia de Forte, em Natal.

A semana começou com o brilho do sol e o entusiasmo do aprendizado.
Lia os aforismo que contrariavam os fundamentos com os quais eu havia formado meu comportamento e me impressionava com a razão contida nas idéias do pensador.

Ali tudo era permitido em razão do bem-estar do homem. Não havia Deus. Não havia o mal. Quem matasse ou roubasse para se satisfazer teria Nietzsche como padrinho.

O super-homem, o eterno regresso e, principalmente, o niilismo, apesar de toda genialidade do filósofo, foram apagando o sol dentro de mim.

Ao fim daquela semana, eu sabia um pouco mais sobre Nietzsche, porém era uma mulher quase sem esperança. O sol queimava minha pele, mas não me aquecia.

Não me interessava o mundo segundo o filósofo alemão. Eu precisava e preciso crer em um ser superior acima dos homens e fiz a opção pela fé, sem deixar de me compadecer e de admirar aquele homem sábio e triste. Naquele verão, optei pelo sol e deixei Nietzsche na prateleira.

(*) Cronista e poetisa em Natal/RN

Nenhum comentário: