terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Fora!, por Aliene Coutinho

Aliene Coutinho (*)



Ele estava ali como sempre esteve. Aparentemente inocente, um companheiro das piores e melhores horas. Eu gostava dele, gostava mesmo e o joguei na minha lista de Ano Novo. Na lista de coisas que eu deveria deixar de fazer de uma vez por todas. Eu já havia me afastado dele por dias, semanas e até meses em outras ocasiões. Mas, nunca de forma tão abrupta e determinada. É, eu finalmente decidi jogar o cigarro fora de minha vida.

Aproveitei deliberadamente a folga de uma semana depois do Natal para esquecer a carteira de mentolados, pela metade, dentro da bolsa. Durante dez dias vivi sem eles, sem sentir a falta deles. Achei na internet um texto do médico Draúzio Varela, onde ele descreve as crises de abstinência como um período onde você pode sentir: irritação, ansiedade, tremores, sudorese fria nas mãos, fome compulsiva, modificação do hábito intestinal, alterações do sono, dificuldade extrema de concentração e alternância de episódios de apatia com outros de agressividade. Ufa, isso é que um vício!

Mesmo não fumando dentro de casa, nem perto das crianças, mesmo passando fins de semana e férias sem sequer dar uma tragada, sempre me considerei uma viciada em nicotina. Já fiquei dois anos consecutivos sem fumar por promessa. Não fumei durante minhas gravidezes, nem nas minhas licenças-maternidades, mas cada vez que voltava ao trabalho, parava na banquinha de revistas da esquina e lá mesmo acendia meu cigarrinho. Chegava a ficar tonta, mas também sentia prazer. Eu sempre gostei de fumar.

Agora estou aqui declarando em público, como garantia, que decidi abandoná-lo para sempre. A cabeça da gente é uma máquina tão perfeita que em nenhuma outra vez tive tanta dificuldade em largar o vício, porque no fundo ela sabia, processava, que eu nunca quis deixar de fumar de verdade. Agora, ela sabe que a situação é outra, e aí está me fuzilando com alguns dos sintomas das crises de abstinência. Nada que eu não possa vencer. Quero viver, no mínimo, os tantos anos que vivi até agora, só que de forma mais saudável e mais madura. Não justifica a essa altura da vida ser dependente do que quer que seja. Além do mais, assim como sonhei em ter meus filhos, sonho em ser uma avó como a que tive: com cheirinho de lavanda, de bolo, de brigadeiro, nunca com cheiro de cinzeiro.

(*) Jornalista e professora de Telejornalismo.

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