segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Julgamento da consciência, por Rodrigo Ramazzini

Rodrigo Ramazzini (*)



- Decidiram por quatro votos a três...

A juíza proferia a sentença e um filme autobiográfico transcorreu nos pensamentos do réu Valdomiro. Lembrou-se como conhecera a ex-esposa, dos tempos de namoro, do nascimento do filho, das constantes brigas, do dia em que ela o abandonou, quando a viu com o namorado pela primeira vez...

-... Os jurados do tribunal do júri da Comarca...

Inevitavelmente o dia em que decidira matar a ex-esposa apareceu no seu longa-metragem. As crises de ciúmes não o deixavam mais em paz...

-... Nos autos do processo 27179...

De soslaio fitou o assassino da sua ex-mulher, recordou como o encontrou e acertou tal homicídio. O Vergílio, um viciado em drogas, que por algumas pedras de crack realizou a execução. Valdomiro concedeu todos os detalhes necessários. O crime foi cometido no crepúsculo de uma sexta-feira, no estacionamento do shopping. Vergílio fora preso em flagrante, pois um dos seguranças do local vira o delito e o interceptara.

-... Pelo crime de homicídio, o réu Valdomiro...

Virgílio dissera no julgamento que matara a mando de Valdomiro. Instruído pelo Advogado, Valdomiro negou veementemente Há casos em que não importa quem tem a razão, ou verdade, e sim, o melhor Advogado.

-... Foi considerado inocente.

O filho do Valdomiro lia a carta que narrava o julgamento do pai, prescrita por ele, lágrimas escorreram. Não se comunicavam há trinta anos, desde o julgamento, quando foi morar com a avó materna. Valdomiro depois de inocentado viveu esse tempo todo recluso em casa, no interior do estado, como um condenado em regime domiciliar. Morreu sentado no sofá. A carta foi o último descarrego de consciência, precisava explicar-se ao filho. Finalizou a carta dizendo: A liberdade é uma dádiva dos homens de consciência tranqüila...

(*) Jornalista e cronista

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