segunda-feira, 1 de junho de 2009

Obrigado Gentileza por seu perdão, por Seu Pedro

Seu Pedro (*)



Já escrevi outras vezes sobre isto, mas vale recordar. Ou não se faz reiteradas vezes a mesma oração do Pai Nosso? Cada vez que repito este feito, é como se viesse nova oportunidade para um pedido de perdão que me valerá eternas lembranças do sorriso de quem me tenho certeza me perdoou. Refiro-me ao profeta Gentileza, José Datrino, nascido na cidade de Cafelândia, em São Paulo, no dia 11 de abril de 1917, falecido em Mirandópolis, São Paulo, em 29 de maio de 1996, para onde foi levado por familiares, pois seu estado físico já não permitia suas andanças, só falando do bem.

Os que conhecem sua história sabem que Datrino, desde tenra idade, era portador de um comportamento atípico: dizia ter premonições e que depois ter família; mulher e filhos, largaria tudo em pról de uma missão que cumpriria. No dia 17 de dezembro de 1961, na ciade de Niteroi, RJ, dizem que, criminosamente, alguém ateou fogo nas lonas do Gran Circus Norte-Americano, durante um espetáculo de casa lotada, o que foi considerada a maior tragédia circense do mundo, quando mais de quinhentas pessoa morreram. Na ante-véspera do Natal daquele ano, surge o Gentileza. Datrino foi um consolador voluntário, visitando familiares dos mortos e passando a mensagem de “agradecimento” a Deus.

Desfeito de seus dois caminhões, distanciado da família, com filhos já criados, plantou grama no local da tragédia e, naquele terreno, foi morar, alí meditando por quatro anos. Seu lema era: Agradecido e Gentil. Assim, ficou conhecido como José Agradecido, posteriormente como Profeta Gentileza. Após deixar o local que foi denominado Paraíso Gentileza, o profeta Gentileza começou a sua jornada como personagem andarilho. E foi um dia, que não sei com precisão, no início dos anos setenta, que apressadamente eu iria entrar na barca de travessia entre Rio e Niteroí, quando me senti atrapalhado por aquele homem de túnica branca e longas barbas, com uma placa na mão pregando os dez mandamentos. Instintivamente, chamei-o de louco. E ele respondeu: Sou maluco para te amar e louco para te salvar.

A barca inciou a travessia e o profeta percorrendo seus corredores e seus dois andares. E só falava de amor. Em sua infância, foi amansador de burros, que conduzia pela feiras de sua cidade, trabalhando e ajudando sua família pobre. Se dizia agora amansador dos burros homens da cidade, que não tinham esclarecimento. Me senti um deles. E manso, dispus da cadeira, com vista para o mar, cedendo-a a uma senhora, e caminhei pelos corredores. De frente ao profeta, roguei: me perdoe. O sorriso a mim destinado disse tudo: eu tinha obtido o perdão. Voltei ao meu espaço de ouvinte, e aquele que se tornou uma das figuras de rua mais populares do Brasil continuou a pregar.

A cada dia onze de abril eu deveria meditar sobre o homem que percorreu, em sua última década de vida (morreu aos quase noventa anos) o Brasil na quase totalidade das cidades. Não fundou nenhuma igreja, não arrecadou nenhum dízimo, e só falava no bem, e aplicava frases de efeito moral contundentes. E fico a pensar o que lí em uma crônica de um amigo padre: todos os meios de comunicação são importantes na mensagem da palavra de Deus. Para mim Gentileza foi importante comunicador. E se vivo pedindo perdão a Deus pelos meus pecados, pequei perante o proferta. Dele pedi e recebi o perdão. Ví-o face-a-face! Um homem que prega o amor, o perdão, que não alimenta ódios, pode ser chamado de louco? Só se for louco para lhe salvar, e ai serei um louco também.

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

Nenhum comentário: